terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Capítulo III - A solidão que consome a alma.


Há quem diga que as estradas da vida levam à variados destinos, és responsável por todas escolhas de sua vida, mestre de todos os caminhos para a felicidade e a imortalidade, que é capaz de enganar-lhe a morte e as tragédias; a grande verdade, é que não há tal poder que lhe faça enganar-se a desgraça eminente, todos os finais são idênticos, a opacidade nos olhos de quem se vai é sempre a mesma, independente da condição física e emocional daqueles que se vão, a vida sempre é uma estrada com rumo certo: a solidão.
As pessoas tendem a procurar companhia de outras pessoas para deixar de sentir-se sozinhas, conversam sobre interesses aleatórios, contam histórias, piadas, mentiras e distanciam-se daquelas que não julgam boas o suficiente para servir-lhes de companhia; tateiam cegamente pelos escuros corredores da vida em busca de uma mão a qual segurar, de modo que não sigam esta estranha jornada que é a vida, sozinhas.
Mas e quando não encontram tal mão, não escutam a voz que lhes guiaria pela mortalha nos túneis que guiam-se para o fim? Eu vos digo: o desespero e a loucura espalham-se pela mente destas pessoas como a peste se alastra sobre um
vilarejo, ceifando rapidamente a sanidade e vontade de viver de cada um acometido por esta deplorável condição, transformando os mais sólidos sonhos em devaneios tão frágeis quanto castelos de cartas, que despencam tão silenciosamente quanto os que caem infinitamente nos abismos de suas próprias mentes.
E então, cansado de não ter com quem trilhar, tateei no escuro em busca desta mão, gritei por ajuda em meio à escuridão, mas sem obter alguma resposta, percebi: fadado estou à solidão...

(Fernando M.)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Capítulo II - O abismo que nos separa.




 Um dia eu li em algum lugar, que quando se encara um abismo por muito tempo, o abismo te encara de volta, mas não acho que seja assim que as coisas funcionam; quanto mais tempo se encara um abismo, mais tempo demoramos para nos distinguir como avulso à ele, é esta a grande verdade da vida, nós somos criaturas falhas, maculamos tudo pelo que passamos, e todos a quem tocamos, como uma grande doença que se espalha lenta e inexorávelmente, matando aos poucos pequenos organismos, que por sua vez contaminam organismos maiores ainda...
 Mas o que eu dizia mesmo? Ah! Há um abismo imenso que separa cada ser humano um do outro, e às vezes até de si próprio; alguns não são capazes de enxergá-lo, à mesma medida que outros não enxergam nada além desse abismo; há pessoas que fazem de tudo para cobrir essa distância e conseguir chegar até si próprias, mas esquecem-se das bestas que habitam dentro de sua consciência, e então, num lampejo, perdem-se totalmente dentro da escuridão que há entre seus demônios e o vazio que as separa do resto do mundo, tornando-se amargas e hostis consigo mesmas e com todas as outras que as rodeiam, sem perceber que estão aumentando mais e mais o abismo que há entre elas e os outros.
 Dizem que o abismo te olha de volta, mas é mentira, você se torna o abismo, você adere a ele vagarosamente, deixando de lado, cada parte do que um dia foi ou sonhou ser. O abismo, como uma besta simbiótica, te consome vagarosamente enquanto te protege do monstro que habita sua mente; pouco a pouco, você se deixa cair em sua infinitude, sem sequer notar que agora não passa de um quase.
 E eu, cansado de assistir tantos caindo, percebi que não há o que temer, pois há muito, ele já nos engoliu; é só uma questão de tempo até que você o perceba...


(Fernando M.)