Morreu o Nunca — sem velas, sem pranto,
num suspiro doce, entre sonho e encanto.
Ninguém sentiu falta do que nunca foi,
mas o mundo sorriu quando ele se foi.
Em seu túmulo florido, brotou o talvez,
e com o amanhã dançou uma última vez.
Cansado de si, calou-se o Impossível,
e o agora sorriu por seu fim tão sensível.
O mundo sabia: algo mudou.
O medo do erro, enfim, se calou.
Cresceu em meu peito um silêncio sereno,
feito espaço vazio — fértil e pleno.
Da morte do Nunca, o Sempre nasceu,
não como promessa, mas algo que é meu.
A cada escolha, um planeta a girar,
na roleta do tempo que insiste em amar.
A morte do Nunca, Jamais foi encontrado:
o Nunca caiu — enfim libertado.
Da entropia, do acaso, da sombra e da luz,
floresce a vida — sem começo ou cruz.
(Fernando M.)