quinta-feira, 17 de abril de 2025

A morte do Nunca




Morreu o Nunca — sem velas, sem pranto,

num suspiro doce, entre sonho e encanto.

Ninguém sentiu falta do que nunca foi,

mas o mundo sorriu quando ele se foi.


Em seu túmulo florido, brotou o talvez,

e com o amanhã dançou uma última vez.

Cansado de si, calou-se o Impossível,

e o agora sorriu por seu fim tão sensível.


O mundo sabia: algo mudou.

O medo do erro, enfim, se calou.

Cresceu em meu peito um silêncio sereno,

feito espaço vazio — fértil e pleno.


Da morte do Nunca, o Sempre nasceu,

não como promessa, mas algo que é meu.

A cada escolha, um planeta a girar,

na roleta do tempo que insiste em amar.


A morte do Nunca, Jamais foi encontrado:

o Nunca caiu — enfim libertado.

Da entropia, do acaso, da sombra e da luz,

floresce a vida — sem começo ou cruz.


(Fernando M.)

sexta-feira, 11 de abril de 2025

A hora do demônio




Três e trinta,

a lua cheia irradia,

escutou o eco da noite,

sentiu gelar sua espinha,

não conseguia mais dormir.

Levantou-se e abriu a janela

sentiu um vento forte

ecoando em tom funesto,

o relógio martelava os segundos

como pregos que perfuram fundo.

Os olhos refletiam a lua

outrora dourada como a aurora,

agora soturna, um augúrio profundo,

sentou-se na cadeira,

tamborilava os dedos na mesa

Por quê estava tão inquieto?

Três e trinta e três,

o dourado lunar agora é um mar de sangue

com fendas negras pulsantes

escutou uma voz rasgando o silêncio

com um sorriso estridente.

O chão tremeu sob seus pés,

sombras escorriam pelas paredes,

longos dedos das sombras se estendem,

O relógio já não mais bate segundos—

um silêncio, viscoso, irreversível.

Os ponteiros girando ao contrário,

pareciam desenhar um símbolo.

Três e trinta e quatro,

tomado por desespero, correu para a porta

precisava confirmar se era real ou pesadelo,

a maçaneta não girava e o ambiente

encolhia, parecia que apertava.

Tentava gritar e não conseguia

então rezou três Ave Marias.

Sentiu um nó na garganta,

A voz não saía, até que a noite se desfez.

Deitado em sua cama, abriu os olhos,

balançava a cabeça e girava os olhos em agonia.

Mas não havia mais nada,

O relógio ainda martelava,

eram três e trinta e cinco,

e a lua ainda brilhava dourada.



(Fernando M.)

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Lamento do silêncio




Eu não sabia que sonhava

somente que sentia,

e a cada dia passado,

parece que não mais sabia,

quem ou quando eu seria.


As horas se arrastavam,

devagar, doloridas,

um minuto durava anos,

e as horas, tão sofridas,

me afogavam em agonia.


Num sussurro esquecido,

floresceu uma mentira,

envenenou o meu âmago,

a vileza só crescia,

despedaçou a minha vida


O reflexo no espelho,

reflete dor e devaneio

lembranças de amar,

de esperança, não!

Cabem o medo e o desprezo


E agora sigo só,

sem rumo, sem alento,

uma sombra a ecoar

sobrevivendo ou vivendo?

Onde viver significa lamento.


(Fernando M.)