terça-feira, 22 de julho de 2025

Samuel

Samuel, às vezes,

um gole de fel te incendeia.

Tal qual o absinto, desce queimando,

como a paixão que em teu peito permeia.


Mas é chama que afaga e destrói,

é beijo que fere e embriaga,

entra doce e sai fatal,

tal qual o canto da sereia.


Teus olhos dançam com o abismo,

entre o desejo e a impaciência,

carregas em ti o perigo

de uma chama que incendeia.


Fez da dor sua melodia,

com cordas que tocam o céu,

ilustram vossa agonia.


És sopro que o vento disfarça,

eco de um sonho que se esvaia,

luz que no éter se agarra.



(Fernando M.)

terça-feira, 8 de julho de 2025

Ela e o Tempo

Falei quando o céu já pendia,

com a luz atravessando de lado.

Nem sombra, nem chama —

só um eco mal acomodado.


Te vi por um fio de instante,

mas o vento empurrou minha voz.

Era breve demais,

era tudo por um triz entre nós.


Não houve resposta. Só vento.

Ou o peso de coisa não dita.

A rejeição que veio depois

parecia já ter sido escrita.


Talvez fosse outra a estação,

outra margem do mesmo rio.

Talvez teus passos seguissem

onde o meu se despede, vazio.


Agora, nem sei se há ponte,

ou se apenas deixei passar.

O que havia em minhas mãos

não quis — ou não quis ficar.


Se couber algo no depois,

se vem, também, não sei de onde.

O que restar, se vier,

só virá quando for — responde.


(Fernando M.)