quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A montanha e eu

Subi sem mapas,

apenas com o peso do meu corpo

e o silêncio dos meus pensamentos.


O vento me perguntava quem eu era,

a pedra respondia com dureza,

e eu, apenas, seguia.


Cada passo doía,

mas não mais que o que eu deixara lá embaixo.

O cansaço não era o inimigo —

era parte do caminho.


No meio da subida,

o mundo ficou pequeno,

e eu, por um instante,

me senti maior que o medo.


No topo, não houve aplausos,

nem bandeira, nem medalha.

Apenas eu, nessa montanha,

olhando um para o outro,

como dois velhos que finalmente se entendem.


(Fernando M.)

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Ironia da Carne

Morri sem som, sem luz, sem despedida,

voltei como quem acorda do sono,

três longos minutos sem sinal de vida.

a morte durou menos que um sonho.


A vida escorre como um rio,

um animal ferido que se arrasta,

um emaranhado de lágrimas e riso,

um caminheiro seguindo pela estrada.


Eu, que pela morte busquei em toda vida,

que via na existência, sinônimo de fadiga,

retornei ileso, isento de sofrimento.


Ganhei uma nova chance de respirar,

De permanecer em pé, e sem chorar,

manter o fogo aceso, sem cair no esquecimento.


(Fernando M.)


Hoje faz 2 anos desde que tive uma parada cardíaca de 3 minutos durante uma cirurgia, o médico já havia desistido, mas a enfermeira se recusou a me enterrar e se esforçou o máximo que pode pra me trazer de volta, funcionou. Logo eu, que sempre quis ir embora da vida o mais rápido que eu pudesse, continuei aqui, voltei ainda mais resistente do que antes e significantemente menos deprimido do que outrora. Ironias à parte, é engraçado como sempre nos apegamos à vida, mesmo que inconsciente, em minha mente, já havia partido, mas meu corpo, apesar de não ter resistido, reagiu e não desistiu.