sábado, 8 de março de 2025

O Reino Oculto de Lesavija



Era uma vez, em uma vila humilde e esquecida pelo tempo, dois irmãos de espírito inquieto e olhos ávidos pelo desconhecido: Hugo e Elias. A vila jazia à beira de uma antiga floresta, densa e impenetrável, cujas sombras murmuravam histórias há muito esquecidas. Os aldeões, temerosos, evitavam adentrar suas entranhas, pois sussurros falavam de encantamentos e criaturas que existiam além da compreensão mortal.

Certa manhã, ao buscar lenha nos arredores da mata, os irmãos depararam-se com um tronco oco, coberto por musgo e flores douradas. Hugo, mais ousado, avançou sem hesitar, pisando sobre raízes retorcidas, quando de súbito o solo cedeu sob seus pés. Elias tentou agarrá-lo, mas foi arrastado junto, e ambos desabaram através de um túnel oculto, cuja escuridão os envolveu como um véu.

Quando se ergueram, perceberam que não mais estavam no mundo dos homens. Ao redor deles se estendia um vale resplandecente, onde árvores frondosas cintilavam à luz de um sol dourado e riachos murmuravam cânticos cristalinos. Flores de mil cores exalavam perfumes inebriantes, e ao alto, entre os ramos, esvoaçavam seres alados de beleza etérea. Eram fadas e elfos, habitantes do lendário reino de Lesavija, uma terra oculta aos olhos mortais, onde a magia fluía como o vento entre as montanhas.

Diante deles surgiu uma fada de cabelos como fios de ouro e olhos tão límpidos quanto a aurora. Seu nome era Liriel, e sua voz era suave como a brisa em um campo florido.

— Raros são os mortais que põem os pés em Lesavija, e mais raros ainda aqueles que partem com dádivas de nossa terra — disse ela. — Mas vós viestes sem malícia, e por isso vos concedo o direito de um presente antes de retornardes ao vosso mundo.

Hugo, cujo coração ardia de desejo por riquezas e grandezas, olhou em volta e viu que ali havia maravilhas além de qualquer tesouro dos reis. Árvores cujos frutos eram feitos de ouro puro, pedras preciosas brotando da terra como flores, lagos onde a água brilhava com a prata líquida da lua. Seus olhos brilharam de ambição, e sem hesitar, declarou:

— Quero uma sacola encantada, que jamais fique vazia de ouro!

Liriel o fitou com um olhar enigmático, como quem enxerga além do tempo e da carne. Então, erguendo uma das mãos, estalou os dedos. Surgiu, como se tecida pelo próprio vento, uma sacola de veludo negro. Hugo agarrou-a ansioso e, ao abri-la, viu que dentro tilintavam moedas reluzentes, infinitas como as estrelas no céu.

Então, a fada voltou-se para Elias, que até então permanecera calado, absorvendo a grandiosidade daquele reino oculto.

— E tu, que desejo carregas em teu coração?

Elias hesitou por um instante. Seu irmão cobiçava ouro, mas ele percebia que nenhuma riqueza que seus olhos vislumbravam era mais valiosa que a serenidade que pairava sobre aquele lugar. Ali não havia fome, nem disputas, nem olhos tomados pela inquietação do desejo incessante. Inspirando profundamente, respondeu:

— De todas as maravilhas de Lesavija, o que mais me encantou foi a paz que aqui reside. Se me for permitido um desejo, peço que meu coração jamais seja tomado pela insatisfação, que eu nunca deseje mais do que o necessário para viver feliz.

Liriel sorriu, e havia em seu semblante uma centelha de admiração. Tocando levemente o peito de Elias com a ponta dos dedos, disse:

— Teu pedido é sábio, e tua alma, mais rica do que pensas. Leva contigo um coração pleno, imune à sombra da ganância.

Com isso, os irmãos foram guiados de volta ao túnel e despertaram em sua vila, como se tudo tivesse sido um sonho — mas um sonho que deixara marcas profundas.

Nos primeiros dias, Hugo regozijou-se. Com sua sacola mágica, adquiriu terras e palácios, cobriu-se de sedas e joias, e banqueteou-se como os reis das lendas. Contudo, o ouro, que antes lhe parecia um dom divino, tornou-se uma corrente invisível. Quanto mais possuía, mais sua alma ansiava, e sua mente se enredava em temores e desconfianças. Outros homens cobiçavam sua fortuna e o seguiam com olhos famintos, e ele passou a viver em perpétua inquietação, pois o ouro chamava não apenas admiração, mas também a inveja e a traição. Seu coração, tão ávido por riqueza, jamais encontrava descanso.

Elias, por outro lado, retornou à sua vida simples, e nela encontrou contentamento. O pão em sua mesa lhe parecia mais doce, o canto dos pássaros mais melodioso, e as pequenas alegrias do dia a dia eram para ele tesouros inestimáveis. Nunca ansiou por mais do que possuía, e assim seu espírito permaneceu leve, imune ao peso do desejo incessante.

Com o tempo, Hugo tornou-se escravo de sua própria fortuna, e um dia, tomado pelo desespero, lançou sua sacola mágica ao rio, esperando livrar-se da maldição da insatisfação. Mas a angústia permaneceu, pois não era o ouro que o atormentava, mas sim seu próprio coração, envenenado pela cobiça.

Enquanto isso, Elias viveu sereno até o fim de seus dias, cercado pelo afeto dos seus e pelo brilho de um coração que nada mais desejava além da felicidade que já possuía.

E assim, o reino oculto de Lesavija ensinou uma vez mais que a verdadeira riqueza não reside no ouro ou na prata, mas na paz de um coração satisfeito.


(Fernando M.)

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