segunda-feira, 15 de abril de 2024

Você resolveu tirar a própria vida, te escrevi uma despedida.

Dos vícios, das questões, dos amores,
Do ópio que nos distrai dessas dores;
Nenhum se compara a abandonar
Os próprios valores.

Dos lamentos, das angústias, dos venenos,
Da bebida que nos isenta da culpa;
Não há nessa vida, o que doa mais que
O pesar da despedida.

Com o coração apertado,
Eu grito seu nome, 
Desesperado.

Com os olhos marejados, 
Eu rezo em seu nome, 
Despedaçado.

(Fernando M)

quinta-feira, 28 de março de 2024

Oppe og ikke gråter




Eu ouvi de um conhecido que na Noruega, quando te perguntam como vão as coisas, se responde "em pé, e sem chorar". Acho engraçado, não importa o quão ruins estejam as coisas, você não está chorando, e também não desistiu. É engraçado pensar em como a natureza nunca desiste, certa vez vi um gato matando um inseto, e ainda que ele quebrou as asas e tinha só uma pata inteira, ainda tentava debilmente sair do lugar como se tivesse que fugir e viver o máximo que pudesse, o mesmo vale para animais, para pessoas. Décadas atrás, quando eu ainda era uma pessoa completamente diferente do que me tornei, presenciei um acidente de carro terrível, e o homem no meio das ferragens, sem metade do corpo, sobreviveu e balbuciava por ajuda, os braços debilmente tentavam segurar partes do corpo que iam caindo junto com o sangue que escorria, mas ele não desistia, se apegava à vida. Eu ando pelas ruas e vejo pessoas morando nas ruas, ainda que eu mesmo já tenha estado nessa situação, hoje em dia tenho um teto acima de mim, assisto de longe as pessoas e como elas fazem literalmente qualquer coisa que conseguirem para seguir em frente e sobreviver, o quão longe uma pessoa é capaz de ir pela sobrevivência? Eu vejo nos jornais, pessoas que não tem o que comer há semanas, e a pele esticada sob os ossos e seus olhares famintos que engolem tudo que podem com sua falta de brilho, animais que ao perceberem que são caça ou que vão para o abate se tornam completamente insanos, o apego à vida é uma força quase que sobrenatural. Disse Bernard Cornwell em um dos seus livros "Tirar uma vida é uma tarefa extremamente difícil" e eu nunca entendi como é possível ter um apego tão imenso à vida, ser tão resiliente, uma força inexorável que sai do âmago e te faz viver à qualquer custo.  Eu sempre fui o contrário; sempre procurei o máximo de oportunidades que podiam me fazer partir da vida, sempre achei que existir era sofrer, que respirar era tortuoso e que se a morte viesse, seria a amiga mais bem vinda à visitar. Ainda assim, após 3 minutos de parada cardíaca, me trouxeram de volta, funcionando ainda melhor do que antes, voltei sem sequer saber que parti, mas também não pedi para voltar, ainda assim, estou aqui, e não há solidão ou angústia que me faça sumir. Sinto como se tivesse criado raízes, não em algum lugar, mas na existência em si. De todas as coisas da vida, a ironia é a maior delas, pois eu, que sempre quis partir da vida o mais rápido possível, continuo aqui. Em pé e sem chorar.


(Fernando M.)

segunda-feira, 4 de março de 2024

A falta


Às vezes eu sinto muita falta.

Das pessoas, dos lugares, 

das coisas, das conversas, 

sinto muita falta, de tudo. 


Sinto falta do tempo que morei longe da cidade grande, dos sorrisos genuínos e das pessoas simples, que amavam a vida sem muita profundidade, com aquele conformismo simplista de que as coisas são como são, e de que o mundo é do jeito que é, sem grandes ambições, com um pouquinho de fé religiosa e um monte de disposição, continuam sua luta diária, sinto muita falta.


Sinto falta de sentar numa pedra e ficar observando a imensidão do oceano, de saber como sou tão pequeno diante de um mundo tão populoso e vasto, e como meus problemas são tão insignificantes e voláteis num planeta tão grande, ouvindo o som das ondas quebrando, com a certeza de que o nosso tempo é do tamanho de um grão de areia, como eu sinto falta. 


Sinto falta de olhar pro céu e ser capaz de ver estrelas, de perceber que o universo é tão vasto que até mesmo esse planeta imenso é só um anão se comparado à tamanha vastidão universal, absorver as estrelas com os olhos e perceber que nossa vida é mais ínfima que a estrela que explodiu somente pra brilhar por uma eternidade, ainda que sua luz esteja eternizada em meus olhos, que falta eu sinto!


Sinto falta de um par de olhos que nunca vi, mas que eu sei, carregam em seu brilho todos os mistérios da criação e tem a força de um buraco negro e a luz de um sol, que me ofusca e me inunda, ao mesmo tempo que engole completamente todo o meu ser, refletindo de volta toda a força e vitalidade da qual preciso para sempre seguir em frente, realmente, eu sinto falta. 


Sinto falta de todos os sentimentos mais verdadeiros e dos olhares mais honestos, das risadas e da sensação de estar completamente ébrio sem nem sequer um gole ter chegado aos meus lábios. De ouvir aquela voz angelical e sentir meu coração em disparada, do calor das mãos dela e o som de tambor dos nossos corações batendo em uníssono, e então, acordo desolado e atônito, eu sinto tanta falta.


Às vezes eu sinto tanta falta,

desse alguém, destes lugares, 

das conversas e dos olhares, 

ainda que seja pura fantasia, 

sinto falta do que eu sonhava. 


(Fernando M.) 


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Silent screaming

            


(My sister and I, 26 years ago, the only picture taken by him I own)


Over 15 years ago, I wrote a song with my stepfather. He passed away a year ago, and it still feels like yesterday. Even though I couldn't find the courage to go to his funeral, I miss him every single minute. Now, I'm 37 and I am but a ghost of what I was back in the day, both my health and my guitar playing skills are not the same, they got worse, life hits really hard and makes you sometimes abandon the things you like the most and the things where you used to be very good, well, capitalism, right, passion won't put food into your plate.

Three days ago, I celebrated another birthday. Last year, I faced serious health issues and was even declared dead by the doctor during surgery. --To the unknown nurse who didn't give up on me, thank you so much. I can never repay you for saving my life when the doctor had already abandoned hope. I may never know your name or meet you again, but thank you deeply.--

Looking back on my life, I remembered everything that shaped me into the person I am today - the hardships, the connections, the countless times I wanted to give up but kept pushing forward. Despite it all, I'm still here, and that's a true gift.

If I could go back in time, I wouldn't change much. But I would express my love and appreciation more openly to those I've lost along the way. To my friends who succumbed to despair, I would offer both hands instead of just one. I would cherish every moment with them, reminding them how much they meant to me.

My stepfather was one of those special people. Even though my mom broke up with him when I was 15, he remained my role model - a truly great man with a huge heart. My only hope is to live up to be at least half the man he was.

Thank you again for composing that song with me, I've been playing it every single day for the couple months since you passed, so I would never forget how to play it. I'm truly sorry I lost the lyrics - they would have been the most precious item I could inherit from you, but I lost it. You had a unique way with words, and your talent for poetry is something I likely learned from you.

Lastly, I apologize for not taking the best care of the guitar I inherited from uncle. The road trip and time I spent on the streets took a toll on it. But I'm saving up for a new guitar, so I can retire this one and treat it as the family heirloom it deserves.

Please never forget how much I loved you, and still do. Thank you for everything. I (hope) I will see you on the other side.


(Fernando M.)

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Elevador do Pesadelo



Certo dia, um ano atrás, eu decidi que iria jogar a madrugada inteira com um amigo, então resolvi descer na loja de conveniência dentro do condomínio para me abastecer de guloseimas e energéticos; era mais uma noite normal, até o momento em que entrei no elevador do prédio. O elevador começou a descer, e imediatamente percebi algo estranho. Não havia nenhum movimento, nem o típico zumbido do elevador em funcionamento. A sensação de que algo estava errado se intensificava a cada segundo que passava.

Quinze minutos se passaram, e o elevador continuava a descer ininterruptamente. Meu coração começou a bater descontroladamente, e um frio percorreu minha espinha. Quando as portas finalmente se abriram, deparei-me com um cenário que desafiava a lógica e a razão.

Eu estava em um lugar escuro, mergulhado em uma penumbra sinistra que tornava impossível distinguir os contornos dos objetos ao meu redor. Não havia sinal de vida, exceto pelos sussurros que ecoavam por todo o lugar, apesar de eu acreditar estar sozinho. Esses sussurros eram ininteligíveis, como se pertencessem a seres de outro mundo.

Decidi começar a andar, na esperança de encontrar alguma saída daquele pesadelo. No entanto, a escuridão era sufocante, e parecia que não importava quanto eu caminhasse, eu nunca fazia progresso. As paredes pareciam se fechar sobre mim, e a sensação de desespero era avassaladora.


Horas pareciam passar enquanto eu vagava naquele labirinto de sombras. Cada esquina que virava me levava a um beco sem saída, e os sussurros incessantes não faziam senão aumentar minha angústia. Eu estava completamente sozinho e perdido em um lugar que desafiava todas as leis da realidade.


Finalmente, quando minha exaustão atingiu o limite, gritei desesperadamente por ajuda. O que aconteceu em resposta ao meu grito ainda me assombra até hoje. Um grito pavoroso e sobrenatural ressoou pelo corredor escuro, penetrando minha alma com terror indescritível. Eu sabia que precisava sair dali o mais rápido possível.


Corri como se minha vida dependesse disso, sem saber para onde estava indo. Minhas pernas ardiam, mas eu não podia parar. A sensação de que algo terrível estava atrás de mim era avassaladora, e eu estava determinado a não me tornar sua presa.


Quando achei que não conseguiria mais, tropecei e caí em uma escuridão mais profunda do que qualquer coisa que já havia experimentado. No entanto, quando me levantei, vi uma tênue luz à distância. Corri em sua direção desesperadamente, e, de repente, estava do lado de fora do meu condomínio, tremendo e ofegante.


Ao retornar à minha casa, meu amigo, que tinha estado me esperando, olhou para mim com olhos arregalados e pálidos como a lua. Ele me contou que eu havia desaparecido por três longas horas, mas para mim, havia sido uma eternidade na escuridão.


Até hoje, não consigo explicar o que aconteceu naquele elevador ou naquele lugar misterioso que se seguiu. O que sei é que, desde então, a escuridão e os sussurros continuam a me assombrar em meus pesadelos, lembrando-me de que o desconhecido é muito mais aterrorizante do que qualquer coisa que possamos imaginar.


(Fernando M.)

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Um sonho que não foi.


Ela me ganhou com um sorriso,

simplesmente chegou, sem pedir licença

ou sequer ser convidada,

aconchegou-se num canto e ali ficou,

ampliando pouco a pouco,

o espaço que ocupava

dentro de mim.

Com um sorriso morno

[capaz de derreter uma geleira]

e olhos cativantes e brilhantes

de beleza sem igual,

que poderiam com facilidade

ofuscar uma galáxia.

Foi assim que minha noite tornou-se aurora,

com a luminescência

de seus olhos [tais como sóis gêmeos]

anulando cada parcela de treva

que habitava dentro de mim,

arrancando-me a alma

do corpo e a levando a

multiversos jamais visitados,

onde nem o maior dos românticos

sequer sonhara.

Ela inebriou minha mente com

a doçura de sua voz,

tal qual o canto de uma sereia,

fazendo com que suas notas

reverberassem em minha alma

lentamente, como o chamado

do arcano ao servo, poderoso,

inexorável, assim como

Sua beleza cegante, uma deusa

encarnada que desceu à

terra somente para mostrar-me

que governa meus sonhos,

coração e alma.


(Fernando M.)

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Morto-vivo













Há muito já não piso neste jardim, 

o tempo não mais é o mesmo,

o ritmo cada vez mais intenso,

precisei me afastar para cuidar de mim. 


Plano este, que não funcionou,

pois a cada dia que se passa,

é evidente que falhou, 

vide a pobre rima apresentada. 


Sinto a cada segundo, 

o peso de minha desgraça,

patético e moribundo


Eu me esforço, me forço

a provar que ainda há vida, 

apesar de jazer morto.


(Fernando M.)